Aviso: Spoiler da última temporada de “Sete Palmos de Terra”
(só eu não tinha visto mas, pelo sim pelo não, fica a nota)
Volto aqui a sublinhar que aquilo ontem no canto do meu olho
era um cisco. Que foi preciso remover, afastar, limpar. Com um lenço.
Agora o que realmente não estava à espera era de ter ficado a
ressacar com a morte do Nate Fisher.
Durante as 5 temporadas de “Sete Palmos de Terra”, foi das
personagens menos interessantes. Era apenas um rapaz vulgar. Nem bonito nem
feio. Nem muito sacana nem muito bem comportado. Nem muito esperto nem muito
idiota. Apenas um homem.
Enquanto que o resto do elenco brilhava na interpretação de
uma riquíssima fauna de espécimes raros: a excêntrica e romântica-inveterada
Ruth; o frágil doce-pecador David com o seu namorado podre de bom e cheio de
mau feitio Keith; a criativa irreverente Claire e as outras personagens
verdadeiramente irritantes: a destrambelhada
Brenda, a histérico-histriónica Lisa; o insuportavelmente desequilibrado
Billy; o secante ainda que lunático George; o infantilóide Rico mais a cabra da
mulher dele.
O Nate era despretensioso. Não ambicionava senão a viver o
melhor possível. A agarrar a vida, a efémera vida, da forma que mais (ou menos)
sentido fizesse. Só queria sair-se bem no meio da selva de personagens exóticas
que faziam parte da sua vida.
Como todos nós. O Nate era o menos especial da história. E
podia ser qualquer pessoa. Qualquer um de nós.
A cena do enterro foi forte mas bela. Um enterro despojado.
Sem artifícios. Sem caixão, sem maquilhagem. Sem mentiras nem enfeites. Apenas
o corpo morto lançado à terra. E a dor dos que ficam.
Percebendo, por fim, que o negócio da Funerária da família se baseava numa farsa, numa fuga, numa
recusa, Nate preferiu abraçar a verdade da vida: a morte. Tal como ela é. Sem liquido de embalsamar, sem paliativos, sem contemplações com os que
ainda têm medo. Por ainda estarem vivos. Nate quis um enterro sem atavios.
E foi essa a lição de Nate. Aceitemos a vida como ela é.
Aceitemos a morte.