Quero ser o teu cão
contente,
correr pela casa
procurando a tua
sombra,
ambicionando a cova
do teu colchão
silente.
Quero ser o teu cão,
galgar as escadas da
entrada
sempre que te vejo à
porta
num arfar desmedido
quase rebenta a
aorta
de quem não contém
a pressa
de se engalfinhar
nas tuas
pernas
e entregar minhas
carícias
subalternas.
O teu cão
complacente,
o chão, o apoio,
o conforto, o meio
para chegar
mais alto e mais
longe
nessa doce
indignidade
de nem reparar
em quem é tão
baixo e pequeno
e com a língua te
unge.
O teu chiuaua de
circo
pateando as patinhas
da frente erguidas
num frenesim
de alegria, de
pedincha
por um pouco de
atenção
de toucinho, de
courato
de um pingo de vinho
para que me esqueça
que sou cão e sou
rato
incapaz de morder
a menos que alguém
me peça
com ternura e
carinho.