Quero
esperar por ti
rocha
no meio do rio
sorrindo
à
erosão dos anos
no
lodo verde
freira
ajoelhada
carpindo
um rosário
em
curto-circuito
alimentando
o corpo
com
um amor sem retorno
paciente
e terno
como
um fóssil incrustado
num
mármore,
conservado
desde
o início dos dias
como
uma migalha de pão
esquecida
na tua camisola
saboreando
o teu suor
lavando
a memória
com
sabão de sangue
propagando-se
no vazio
entre
os planetas
até
às muralhas imaginárias
Quero
esperar por ti
como
um flamingo cor-de-rosa
apoiado
ora
numa perna
ora
noutra
descansando
o
corpo estátua
congelado
no
espaço-tempo
como
um monge tibetano
treinando
Yoga
pernas
entrelaçadas
por
cima do pescoço
levitando
a alma
acima
da cabeça
num
reino
de
brancos fantasmas
despedidos
do mundo,
Quero
esperar por ti
simplesmente,
por
teimosia,
sentar-me
separada
da vida,
cruzando os braços
entrelaçando
as lágrimas
e
esperar