domingo, 4 de maio de 2014

Um Poema (maroto) de Alexandre O'Neill









 PORNOCINE




Ah, deixem-se de abraços e de beijos,
de grandes planos de frentes e traseiros!
Não se lambam sob a luz cruenta
dos projectores.
Poupem-nos a essas cópulas
tecnicolores.
Na posição de «o missionário», denegrida,
ainda se move muita gente, muita vida.
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E se a Carole não gosta, gosta a Ana!
E viva o sexual fim-de-semana!
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A gratificação oral, que põe os olhos
do homem iguais aos do carneiro
mal morto,
é barco balanceiro
que encontra, no cinema, alguns escolhos,
por isso não se pisam os canteiros
ao entrar em tal horto.
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E se a Carole não gosta, gosta a Ana!
E viva o sexual fim-de-semana!
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Das cruas sodomias
pé ante pé a câmara se aproxima.
Por ângulos interessantes,
quase se espiritualizam os amantes.
Bertolucci emprega a margarina
no seu escabroso edificante.
Porém, lambe de mais o filme,
lambe de mais a cria,
e é assim - clássico! - que já está na estante...
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E se a Carole não gosta, gosta a Ana!
E viva o sexual fim-de-semana!
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Mais corajoso - e feio - o Pasolini serve-se
do amor com truculência, verve
e poucas ilusões.
Nele, a fornicação é quase sempre assalto
a privilégios.
Talvez por isso não mandem os colégios
ver as suas sessões...
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E se a Carole não gosta, gosta a Ana!
E viva o sexual fim-de-semana!
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De modo que a câmara aguenta
mais depressa a velatura que a franqueza.
Para que Eros durma em nossa casa
É preciso saber abrir-lhe a cama
E pôr-lhe a mesa...
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E se a Carole não gosta, gosta a Ana!
E viva o sexual fim-de-semana,
eroturismo à portuguesa!
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Alexandre O'Neill,
Anos 70 Poemas Dispersos,

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