O Homem-Elefante, como era conhecido pela civilizada
população de Londres em plena era vitoriana, falava à senhora Kendal com uma
ternura infinita. Descrevia as crueldades que contra si tinham sido perpretadas
sem restício de mágoa. O seu coração era ausente de ódio. Apenas conhecia a
dignidade e o desejo de ser amado e reconhecido como o ser humano que era.
Tinha uma fé inabalável na Humanidade.
A senhora Kendal, já vira de tudo, no ambiente faustoso da alta
sociedade que frequentava os teatros de luxo da cidade. Conhecia a arrogância
dos dandys e a hipocrisia escondida por
baixo dos cetins, tafetás e brocados das grandes ladys.
Nunca tinha visto ninguém como Jonh Merrick, ex-aberração de
circo enjaulada, que sabia de cor e lhe oferecia o “Romeu e Julieta”.
Mais forte do que tudo o que aprendera sob o brilho dos
palcos iluminados foi a água que lhe rasou os olhos e não se conteve em chorar.
Não de tristeza, pena ou compaixão. Mas porque diante de si estava o homem mais
belo que alguma vez conhecera.