quinta-feira, 3 de abril de 2014

Homem-elefante

O Homem-Elefante, como era conhecido pela civilizada população de Londres em plena era vitoriana, falava à senhora Kendal com uma ternura infinita. Descrevia as crueldades que contra si tinham sido perpretadas sem restício de mágoa. O seu coração era ausente de ódio. Apenas conhecia a dignidade e o desejo de ser amado e reconhecido como o ser humano que era. Tinha uma fé inabalável na Humanidade.
A senhora Kendal, já vira de tudo, no ambiente faustoso da alta sociedade que frequentava os teatros de luxo da cidade. Conhecia a arrogância dos dandys e a hipocrisia  escondida por baixo dos cetins, tafetás e brocados das grandes ladys.
Nunca tinha visto ninguém como Jonh Merrick, ex-aberração de circo enjaulada, que sabia de cor e lhe oferecia o “Romeu e Julieta”.
Mais forte do que tudo o que aprendera sob o brilho dos palcos iluminados foi a água que lhe rasou os olhos e não se conteve em chorar. Não de tristeza, pena ou compaixão. Mas porque diante de si estava o homem mais belo que alguma vez conhecera.