É quase como aquela
música do Chico Buarque de Holanda
em que ela é
bailarina e ele é funcionário
e não se encontram.
Mas agora os
ponteiros do relógio vão ao contrário.
Existe uma árvore
grande, pode ser um embondeiro
que nunca vi mas que
sei que existe.
Tu corres à volta
do tronco e eu vou atrás de ti.
O Sol gira ao mesmo
tempo que nós
por isso para lá
das tuas costas é noite,
para lá das minhas
é dia.
Corro atrás da
noite.
Se ficasse parada e
quieta acabavas por vir
de encontro a mim
mas escolho continuar
temendo a mistura de
sombra com luz em sentido reverso.
Tudo tem uma ordem
natural,
a minha é correr
para as tuas costas.
Tal como a tua é
correr simplesmente.
Talvez a árvore nem
exista,
e o movimento se
sustente em carris imaginários.
Se o sol nos
acompanha é porque nos dá o aval para continuar.
Isso basta-me.
Não estou cansada.
Deixei para trás o
cansaço mal começei a correr.
Peito com costas.
Costas com peito.
Os opostos quase se
tocando.
Nunca conseguindo.
O dia persegue a
noite.
E a noite foge ao
dia.
O Sol aprova, por
isso está certo.
Corremos sempre.