Enquanto o Windows tenta ligar-se à rede sem fios e renovar o
meu endereço IP o serviço teima em permanecer desligado, fico isolada na
página em branco.
O problema persiste e acabo por ligar ao meu assistente de
rede. A dimensão da complexidade das causas é tal que pede a intervenção duma
rede de assistentes. Que passam de um dia para o outro. Os IPs voltam a
renovar-se insistentemente e tudo permanece velho.
Envelheço só, na minha página em branco. O técnico intervém
de facto, de corpo presente. Dá-se tempo ao tempo. E o serviço volta a cair.
Cai-me no chão a esperança que estava suspensa na página em branco. Chegam
algumas linhas, a preto, para me prestarem os primeiros socorros. Sem sucesso.
O técnico volta ao local do crime. Mete as mãos ao trabalho intervindo mais
concretamente. Parece que a normalidade foi alcançada. O serviço está agora de
quarentena. Apaga-se. É o silêncio.
Estou encurralada na página em branco.
Voltam uma pequena linha, a bold, de plantão, para tentar
novamente alguns paliativos.
Tento colaborar para evitar a decepção. Com alguma
dificuldade chamo novamente o técnico. Ele consegue, não sem esforço, manter a
calma. Sossego.
Entram em cena algumas linhas mais longas, a itálico que
estavam destinadas a eventualidades de longa duração. Entretenho-me com elas. O
técnico diagnostica um problema de origem central e sai em direcção à sede.
Tudo se irá passar agora fora do alcance da minha vista. Tão longe como se
fosse noutro planeta. Não vejo as manobras de recuperação do técnico. Ele
diz-me que há que ter confiança. Olho para a página em branco. Está em branco.
As linhas partiram, já nada mais podiam resolver. Apenas o branco a olhar para mim, como se o
branco olhasse. Olho a página. Como se o branco fosse visível.
E o problema é maior do que a rede de assistência poderia
calcular. Também eles estão perante uma página em branco. Em silêncio. Sem
respostas. A olhar o branco da página, como se o branco se pudesse ver.
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