terça-feira, 5 de agosto de 2014

"AO ENCONTRO DE ESPINOSA"




António Dámasio no livro "Ao Encontro de Espinosa" dá-nos a conhecer algumas descobertas da ciência nos sobre as emoções sociais e a neurologia do sentir.
Damásio conta-nos que o seu filósofo predilecto, Espinosa, tinha, no passado, teorizado sobre emoções e sentimentos utilizando apenas a razão e chegado a teorias com muitos pontos comuns com as conclusões que a sua equipa de neurobiologistas, e outras, têm chegado nos dias de hoje.


Deixo aqui algumas citações que considero essenciais à compreensão do que são emoções, sentimentos, pensamentos, consciência, mente e corpo.




"Na realidade, são os sentimentos que constituem sombras das manifestações emocionais."
"Temos emoções primeiro e sentimentos depois porque, na evolução biológica, as emoções vieram primeiro e os sentimentos depois."


"Mas a experiência da dor ou do prazer não é a causa dos comportamentos de dor ou de prazer, e não é sequer necessária para que esses comportamentos ocorram."


" Como acontece frequentemente quando um dispositivo novo é incorporado no repertório biológico, a natureza serve-se daquilo de que já dispunha, o que, no caso do sentimento, nada mais é que a emoção. No princípio foi a emoção, claro, e no princípio da emoção esteve a acção."




" De um modo geral, os sentimentos traduzem o estado da vida na linguagem do espírito."
"Sentimentos são percepções".


Os sentimentos emergem quando a acumulação dos pormenores mapeados no cérebro atingem um determinado nível."
"Quando se remove a essência corporal, a noção de sentimento desaparece. Deixa de ser possível dizer "sinto-me feliz" e passamos a ser obrigados a dizer "penso-me feliz"
"O substrato imediato dos sentimentos é constituído pelos mapas cerebrais do corpo."
"Um sentimento é uma ideia, uma ideia do corpo, uma ideia de um certo aspecto do corpo, quando um organismo é levado a reagir a um certo objecto ou situação."


" Os objectos e situações que constituem as origens imediatas da essência do sentimento estão colocadas dentro do corpo e não fora do corpo. Os sentimentos são tão mentais como qualquer outra percepção, mas os objectos imediatos que lhes servem de conteúdo fazem parte do organismo vivo de que os sentimentos emergem."


Para além de estarem ligados a um objecto imediato, o corpo, os sentimentos estão também ligados ao objecto emocionalmente competente que deu início á cadeia emoção-sentimento. De uma forma bem curiosa, o objecto emocionalmente competente é responsável pelo estabelecimento do objecto que está na origem imediata do sentimento."


"... os sentimentos não são de todo uma percepção passiva, um relâmpago que desaparece da nossa vista."


" Na realidade, contudo, sentir, leva o seu tempo."


"Aquilo de que nos damos conta é uma série de transições e, nalguns casos, uma luta aberta entre as alterações do corpo, iniciadas pela emoção, e a resistência que o corpo. oferece a essas alterações."


" Está bem de ver que esta perspectiva de forma alguma nega a realidade dos objectos. Os objectos são reais. A perspectiva também não nega a realidade das interacções entre o objecto e o organismo. E, evidentemente, as imagens também são reais. Contudo, as imagens de que temos experiência são construções provocadas por um objecto e não imagens em espelho desse objecto."


" Não há, que eu saiba, qualquer imagem do objecto transferida opticamente da retina para o córtex visual. A óptica pára na retina. Da retina para diante ocorrem transformações físicas em diversas estruturas nervosas a caminho dos córtices visuais, mas não se tratam já de transformações ópticas."


" A mente existe porque há um corpo que fornece os seus conteúdos básicos"


"A mente existe para o corpo, está empenhada no contar da história daquilo que se passa no corpo, e utiliza essa história para melhorar a vida do organismo. O cérebro está repleto dos sinais do corpo, a mente é feita desses mesmos sinais, e ambos são os servidores do corpo."


"Qual é a grande contribuição de Espinosa na resolução do problema mente-corpo?
(...) mente e corpo são processos mutuamente correlacionados que, em grande parte, representam duas vertentes da mesma coisa.
Em 2º lugar, que, por detrás, da dupla face destes fenómenos paralelos, há um mecanismo que permite representar os acontecimentos do corpo na mente; que, apesar da paridade da mente e corpo, há uma certa assimetria nos mecanismos que se ocultam por detrás destes fenómenos. Espinosa sugere que o corpo molda os conteúdos da mente mais do que a mente molda os conteúdos do corpo, embora os processos da mente também influenciem os do corpo. Por outro lado, as ideias podem criar outras ideias, numa autonomia criativa a que o corpo não tem acesso."














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