terça-feira, 23 de dezembro de 2014

BOARDWALK EMPIRE




Ao fim de 5 temporadas chega ao fim “Boardwalk Empire”, uma das minhas séries favoritas de sempre. Já não é a primeira vez que o digo mas vou repetir que o Steve Buscemi tem aqui o papel da sua vida e prova que não é preciso ter uma carinha laroca para se ser um grande actor. Aliás, Steve Buscemi é mais do que pouco atraente, chega a ser feio. E ainda assim compõe uma personagem que é um gangster gentil, Enoch Thompson, charmoso e absolutamente irresistível. Toda a história gira à sua volta. Nucky destaca-se dos demais criminosos pela lucidez, calma e desassombro. Para além do poder que tem e exerce ele conhece-se a si mesmo, está consciente. Por isso, antes de tudo, é o mais inteligente dos homens.
Na última temporada podemos conhecer o fim e o princípio da história. Vemos o Nucky criança e o Nucky jovem adulto a tentarem desesperadamente subir na vida. O Nucky criança quer trabalhar para ser recompensado com uma vida melhor. A vida, e os criminosos instalados no poder local, não se cansam de lhe tentar ensinar que essa não é uma filosofia vencedora. Mas é o Nucky jovem que em certo momento se vê confrontado com a escolha entre o Bem e o Mal. Para subir na hierarquia e ser promovido a xerife pelo Comodoro ele só tem uma hipótese definitiva e, em consciência, aceita-a. (Tudo menos a pobreza de onde veio. Assim se justifica o lema da série: “you can´t be half a gangster”)
O jovem xerife sabe que ao aceitar ser, mais do cúmplice, parte activa no pior crime do cacique local, está a abraçar o papel de criminoso a 100%, para toda a vida. O que lhe é imposto é um sacrifício humano. Promete nesse momento tomar conta da sua vítima, uma miúda de 13 anos, para sempre. No final da história , quando Gillian, internada num hospício, em desespero de causa lhe pede auxílio, ele vai visita-la. E oferece-lhe ajuda monetária, mas só isso, frisa bem. Que mais podia ele oferecer-lhe depois de lhe ter tirado o direito a uma vida normal? Ele sabe o que lhe fez, aquela promessa era vã.
E assim a vida faz um circulo completo e o final da história toca o o seu princípio. (Não digo mais para não estragar a surpresa)
Não posso deixar de fazer referência a outros actores que deram corpo a personagens secundárias de grande importância na trama.


Stephen Graha: Seria fácil resvalar para uma  caricatura de um mafiosos pois Al Capone tem uma imagem em público que é puro espalhafato. Mas essa é a persona que Capone inventava para tentar superar a mediocridade que lhe corroia a auto-estima. Ele chegou a uma posição de chefia não por ser especialmente esperto, particularmente forte, ou mais psicopata que os demais. Foi pura sorte por ter sido braço direito de Johnny Torrio, o mais zen dos chefes mafiosos, que não se importava de ter aquele labrego de riso alarve a fazer-lhe as rondas e as cobranças. Tivesse Al Capone sido membro do grupo de Nucky Thompson e não teria sobrevivido duas semanas. Mas para tudo é preciso sorte e Al Capone lá foi andando, entre linhas de coca e tertúlias com realizadores de Hollywood, despachando rivais tão depressa quanto colaboradores azarados, à conta de muito crânio esmagado por bibelots e outras bugigangas.

Michael Kenneth Williams: se eu fosse realizadora de cinema este seria o meu actor fetiche. Não haveria de fazer filme, série, anúncio publicitário ou vídeo clip em que este homem não entrasse. Chalky White é o mais fiel colaborador de Nucky Thompson. No final ele acaba como herói romântico, numa última cena tocante.

Marc Pickerin: Todo o casting da série é um sucesso. Terem escolhido este actor para fazer de jovem Nucky é a cereja no topo de bolo.
Naquele tempo o homem caminhava sobre a fina linha que separa o Bem do Mal. Na hora da verdade ele não teve dúvidas, fez o que tinha a fazer para cumprir a sua ambição. Recém-casado e apaixonado, sabia que iria desiludir a sua jovem esposa mas mesmo assim não houve hesitações. Ele tinha um caminho a seguir e fez o que lhe foi exigido sem contemplações. Houve uma vitima. Ele teve plena consciência de que essa vítima seria apenas a primeira.

 Gretchen Mol: A história de Gillian Darmody anda de mão dada com a história de Nucky Thompson. Ela foi o veículo que lhe permitiu a entrada para o clube do crime da cidade. O cacique local de Atlantic City, o Comodoro exigia cumplicidade para os seus peculiares apetites sexuais. O seu xerife adjunto tinha uma condição para ser promovido a xerife, com a agravante de ser despedido se não colaborasse. Gillian era órfã. Gillian tinha 13 anos. Gillian estava mesmo à mão de semear. Gillian é o destino ao qual vai ficar irremediavelmente amarrado . Nucky promete cuidar dela até ao fim. Ela tem um filho que é personagem principal nas duas 1ªas temporadas. Depois tem um neto. E o circulo fecha-se. No fim da série definha num hospício. Foi mutilada, retiraram-lhe o útero para lhe tirar a histeria como antigamente se acreditava curar as doidas. Faz um apelo ao homem que um dia, fugida do orfanato, a tentara ajudar: Nucky Thompson, que comprometido pela promessa inicial vai ao seu encontro. Mas é tarde, ela está perdidamente insana e ele apenas tem dinheiro para lhe oferecer. Gillian teve as suas razões para ter sido inimiga daquele homem. No fim foi a ele que recorreu e Nucky ali estava, horrorizado perante as atrocidades que ela exibia no corpo, no olhar ausente, percebendo que aquela morte em vida era totalmente da sua responsabilidade.





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