sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

a vida feliz


Marco Santos
Violência doméstica, a sombra do diabo


Ser feliz,
eis o que sempre quis.
Quando nasci
prometeram-me
que seria um homem.
Cresci,
cresceu o mundo ao meu redor,
uma desmesura.
Cresceu barba,
cresceu a urgência
de ser feliz,
tudo o que sempre quis.
Veio a mulher,
baleia malhada
dando à costa,
dando as costas e a barriga
como sempre quis,
que feliz!
O desejo quase cumprido,
o cornetim de vitória
soprado em vão
e ela afundou-se
no oceano da vida,
o que quis,
ser feliz,
novamente um sonho adiado.
Tenazes apertando o craneo
tenebrosas,
contra à vontade
de ser feliz,
contra mim,
todos,
tudo.
O mundo
contra
o contrato
de ser feliz.
Não há juiz
que me impeça
a promessa
de ser feliz,
de ser o homem
que esperneia,
combate,
e quem ama
odeia,
vasculha,
persegue,
pirateia,
como bom caçador macho,
embosca,
rodeia
a mulher-baleia
que bloqueou
a profecia
prometida
e digo:
dá-me o que quero,
cabra,
ser feliz,
não me dás,
tiro-te a vida.

1 comentário:

  1. Muito bom!
    «Je t'aime - un peu - beaucoup - passionnément - à la folie»

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