Não há
um poema para nós, meu amor.
As
palavras são dos olhos,
da língua
que escreve
directamente
na pele
com tinta
invisível,
decifrada.
Decreta
que este
planeta, o corpo,
é a
nossa casa.
Os poemas
são
da fonte
da carência
ali do
quarto ao lado,
nascem
tristes
transfigurados,
melancólicos,
meu amor,
procuram
amparo, algum consolo
combalido,
uma nervura.
Aqui as
palavras saltitam
pelas
pernas como lebres
que
correm a matar a sede,
entrelaçam-se
nos dedos
pulam das
mãos para as mãos
dançam à
saída dos lábios
e à
entrada
e não
ficam, meu amor.
As
palavras vão e vêm,
e vão.
As
palavras, meu amor,
num poema
demoram
como
lágrimas.
Não me
peças um poema,
meu amor.
Para nós
há a vida.