Uma vez conheci uma miúda
na paragem do autocarro. Quer dizer, vi-a muitas vezes, ela apanhava
a mesma camioneta da Vimeca que eu e ficámos amigas. Era mais ou menos da minha idade,
talvez dois anos mais nova, era baixinha e tinha cabelo loiro muito
comprido e liso. Não me lembro do seu nome. Simpatizava com ela e um
dia, não sei bem porquê, acabámos por meter conversa uma com a
outra. Coisa rara em mim, falar com estranhos na rua. Mas ela não
era propriamente uma estranha, afinal via-a praticamente todos os
dias fazia meses. Palavra puxa palavra, fiquei a saber que estudava
em Algés e a certa altura convidei-a para ir lá a casa. Ninguém
estranhou, era só mais uma amiga. Disse-me que gostava de ler mas
que não tinha muitos livros. Gostava de histórias românticas, mas
mesmo românticas, daquelas que acabavam bem. Fui buscar-lhe uns
livros da Corín Tellado que eram da minha avó e um que me era
especialmente querido da Max du Veuzit chamado John Chauffeur Russo.
Nunca mos devolveu. A certa altura desapareceu da zona, nunca mais a
vi.
Conhecer pessoas na
paragem do autocarro, naquele tempo, era tão arriscado como fazer
amigos na Internet hoje em dia.
Ainda hoje choro aqueles
livros do tempo da minha avó. Eram uma espécie de relíquia
sagrada.
Se a memória não me
atraiçoasse tanto podia reclamar a minha herança perdida, através
do Facebook.
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