quarta-feira, 30 de setembro de 2015

JOHN CHAUFFEUR RUSSO

Uma vez conheci uma miúda na paragem do autocarro. Quer dizer, vi-a muitas vezes, ela apanhava a mesma camioneta da Vimeca que eu e ficámos amigas. Era mais ou menos da minha idade, talvez dois anos mais nova, era baixinha e tinha cabelo loiro muito comprido e liso. Não me lembro do seu nome. Simpatizava com ela e um dia, não sei bem porquê, acabámos por meter conversa uma com a outra. Coisa rara em mim, falar com estranhos na rua. Mas ela não era propriamente uma estranha, afinal via-a praticamente todos os dias fazia meses. Palavra puxa palavra, fiquei a saber que estudava em Algés e a certa altura convidei-a para ir lá a casa. Ninguém estranhou, era só mais uma amiga. Disse-me que gostava de ler mas que não tinha muitos livros. Gostava de histórias românticas, mas mesmo românticas, daquelas que acabavam bem. Fui buscar-lhe uns livros da Corín Tellado que eram da minha avó e um que me era especialmente querido da Max du Veuzit chamado John Chauffeur Russo. Nunca mos devolveu. A certa altura desapareceu da zona, nunca mais a vi.
Conhecer pessoas na paragem do autocarro, naquele tempo, era tão arriscado como fazer amigos na Internet hoje em dia.
Ainda hoje choro aqueles livros do tempo da minha avó. Eram uma espécie de relíquia sagrada.
Se a memória não me atraiçoasse tanto podia reclamar a minha herança perdida, através do Facebook.


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