segunda-feira, 22 de outubro de 2018

feiticeira inédita

Gravura de Albin Brunovsky





o céu sitiado de estrelas
ao comando
uma lua complacente
demissionária

atada
ao mastro fervoroso
a feiticeira inédita
vai ouvindo o crepitar
do fogo preso
horizonte crescente
de um mistério tentacular

promontório lambendo
cada perna devagar
subindo derretendo
a pele obstinada
amolecendo ilíacos
dilatando frestas
ascendente domínio
açulando dentes e língua

o coração arranca
num galope vertiginoso
o corpo avança
perdendo-se
no vicioso círculo
amálgama de aço e forças
no final a cinza
que se há-de aspirar
e engolir inteira

antes do grito da carne
a feiticeira inédita
há-de aprender
a reter o fôlego
nova respiração
porque
o fogo também tem marés
se chamas
será preciso urgir
e atravessar esse
mar de ferro


Sem comentários:

Enviar um comentário