quarta-feira, 11 de julho de 2018

o funcionário matrimonial



chego sempre uns minutos
antes do tempo
quase raia o obsessivo
atrapalha o serviço
é mais forte que eu
o período da manhã
o mais calmo
o expediente bastante leve
os ânimos  serenados
denunciam apenas
uma ramela ou outra
febre dos fenos
tudo dentro da normalidade
deito uma espreitadela
à janela pelo rabo do olho
fraca agitação
mal me dou conta
chega o almoço convívio
o pão nosso de cada
mentira


a seguir à refeição
vem-me a traçã costumeira
passo pelas brasas discretamente
nunca fiando completamente
na modorra
benigna dos intervalos
afiambro-me à lancheira
se faz trovões é lá fora
que se dane o dia
se o bulício da cidade
interrompe a rotina
defensiva do quotidiano
que se lixe a taça
nada que não se resolva
com um breve despacho
ordinário sulfuroso
está feita a jorna
espeto uma última peta
o amor é labuta

à noite o leito é morno
em lençóis oficiais
separados

espero quinze dias de férias
merecidamente gozados
com uma ou outra corista
abençoado emprego
um lavor pra toda a vida



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