Diz
João Lobo Antunes, no prefácio desta obra: “por mim prescrevia
este livro como leitura obrigatória para todos os médicos”.
Eu
acrescento que seria bom também para veterinários, por tudo o que
têm em comum com os médicos. Com eles partilhamos a falibilidade, o
mistério e a incerteza. Três características da nossa profissão
que dão título às três partes distintas do livro de Atul Gawande.
Mas
penso que o livro tem também interesse para todos os doentes ou
doentes em potencial (todos nós), porque não há quem não sinta
vontade de espreitar para lá da cortina e ver o que se passa do
outro lado.
Tenho
verificado que há uma grande parte de pessoas que julga a medicina
como uma espécie de magia, onde tudo se resolve de forma automática.
O médico olha, vê o que o doente precisa e aplica uma injecção
que imediatamente resolve o problema.
Na
medicina veterinária acontece a mesma coisa. Um dia um grupo de
amigas trouxe-me à consulta um gato encontrado na rua em muito mau
estado. O animal mal se mexia, extramente desidratado, malnutrido,
febril. Expliquei que teria de o pôr a soro endovenoso e proceder a
análises, eventualmente iria precisar de mais meios de diagnóstico,
como RX ou Ecografia, uma vez que nada se sabia da história clínica
dele e podendo estar afectado de várias doenças possíveis. Como
resposta obtive uma pergunta: “em vez disso tudo não lhe pode dar
uma injecção para ele melhorar?”
Por
outro lado existe o grupo de pessoas que considera, como diz Atul
Gawande, “ a medicina como um campo organizado de conhecimento e
procedimentos. Mas não é. É uma ciência em mudança constante, de
informação incerta, de indivíduos imperfeitos e , ao mesmo tempo
de vidas em jogo. A ciência está presente nas coisas que fazemos,
sim, mas o mesmo acontece com o hábito, a intuição e às vezes a
conjectura pura e simples. O hiato entre aquilo que sabemos e aquilo
que pretendemos atingir persiste. E esse hiato complica tudo o que
fazemos.
Também
me atraiu o facto do autor ser cirurgião e escrever sobre essa área
da medicina.
“Nem
toda a gente aprecia os atractivos da cirurgia. Quando somos
estudantes de Medicina e estamos no bloco operatório pela primeira
vez e vemos o cirurgião encostar o bisturi ao corpo de alguém e
abri-lo como um fruto, ou estremecemos de horror ou ficamos
fascinados. Eu fiquei fascinado. Não foram só o sangue e as s
vísceras que me fascinaram. Em primeiro lugar, foi a ideia de que
uma simples pessoa tivesse a autoconfiança suficiente para usar
aquele bisturi.”
É um
livro que nos agarra logo na primeira página e depois do acabar
sentimos que queremos ler os outros que Atul tiver escrito. Eu fiquei
fã.
Sem comentários:
Enviar um comentário