quinta-feira, 10 de maio de 2018

Não há palavras

Cristais de estruvite na urina




há bolas de espuma
contra paredes de lama
pulguinhas anémicas
a chupar macacos
raquíticos cristais
a roçar as vias urinárias
pequenos e herméticos
ataúdes hérnias
imaginárias
cordas de vime

beijar pescoços condenados
a mão que embala
o lombardo na salsicha
gotas de chuva ácida
a brotar a urticária da face
pó de vidro
a condimentar a sopa
cacofonia das entranhas
desavindas
o lacrau à espera do pé
que vai calçar a bota
a razão do medo
nas palavras

joelhos floridos
de hematomas no amparo
da queda o chão
molhados os prémios
da feira sempre
que acertavas no alvo
à espera o teu sorriso
atrás da porta
palavras não há
corações fumegantes
após a matança
o ego a insuflar

roupas espalhadas
na cama areia salgada
pelas ondas montanhas
em descanso
após a avalanche
serigrafias  de marionetas
por cima do sofá da sala
garrafas de cerveja artesanal
a  mitigar o gemido

cartazes de festivais
seco o cinema
alternativo farol
perdido na noite
fígado cansado do gelo
não há palavras
há figueiras carregadas
do fruto mel
que se derrama no mármore
fogos que alastram
sôfregos testamentos
futuros que jamais
serão abertos

bocas suspensas
numa prece realejo
espreguiçando uma canção
sopa de abóbora a arrefecer
na mesa do canto
os teus dedos
nus meus dentes
nunca haverá palavras










Sem comentários:

Enviar um comentário