quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

vento divino

Salome, Rafal Olbinski para Strauss



Deponho decapitada
a teus pés
o pedaço da cabeça,
o caroço,
Salomé,
(o pescoço
não chora)
recebe o meu
suicídio benigno,
saboreia.
Não chores
(como se chorasses),
não dances
(como se dançasses),
não te canses.
Chegou ao fim
esse meu longo plano
kamikaze
inflamado p'lo tempo,
um vento divino,
que não havia meio
de aterrar,
mas planando no alto
foi cair no colo
do teu medo,
quando eu era
João,
voluntariamente.

1 comentário:

  1. Dolorosamente certeiro o golpe de asa da adaga foi benevolente porque cortou o pescoço e deixou o nó...
    E o tempo permanece intacto e, melancólico, resiste ao vento...Sublime.

    ResponderEliminar