quarta-feira, 6 de junho de 2018

Poema em Apneia

imagem de Katie Scott




o poema não vem da boca
nem do coração
que lhe vai próximo
vem da contracção
do fígado aflito
lágrimas de bílis
coalhando em cascata
no profundo espaço
do ventre
lágrimas
derramadas escurecendo
o céu por dentro
travando os sovacos elevando
os socos invisíveis sombrios
o poema arde na vesícula
estimula a descarga do fel
em catarata de pranto preto
contaminando o tenso emaranhado
de veias e nervos cegos
quiasma óptico
esse fígado aflito
acende-se um fantasma
na respiração pestanejada
da pleura arde uma fuga
quebra lágrimas de tinta
um choco à deriva
no intervalo do corpo
uma apneia

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