O TAMANHO DO
MUNDO
A solidão
mede-se pelos estalos dos móveis à noite
Uma lágrima
de torneira atravessa o escuro
O relógio
elétrico na mesa de cabeceira a tricotar o tempo
converte o
sono em mobília
Os objetos
aumentam nos naperons
inclinados
para mim a escutarem
Eu a
juntar-me aos poucos no colchão
Tão estranho
as pessoas serem uma voz
vinda do
centro da terra
com o
silêncio de Lisboa inteira à volta
O primeiro
morcego a riscar o silêncio
com o giz do
seu grito
Qual de nós
sou eu?
Tantas cores
vivas de repente em mim
O mês de
abril a nascer-me por dentro
Orgulhosa de continuar a florir
assistindo aos pássaros que não poisam nunca
Gaivotas que
trazem
os primeiros
barcos da manhã no bico
É impossível
que os mortos não andem aí à procura
Há tantas vidas em nós
para onde irá isso tudo
Qual é exatamente
o tamanho do mundo