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O 2º Livro escolhido pelo RAP para o Clube de leitura de Obras de Humor da ECON |
Podíamos dizer que Denis Diderot é um bom contador de histórias. Podíamos mas seria ficar aquém da verdade. Mais que um contador de histórias, o autor é um zigzagueador de narrativas, de tal modo os vários enredos se vão entrelaçando uns nos outros formando no livro uma delirante tapeçaria de peripécias.
Em Jacques, o Fatalista, consigo identificar trinta e três histórias, umas mais longas, outras mais curtas, que se interrompem para dar origem ora a umas ora a outras, sempre conseguindo prender o leitor a cada página do livro.
São elas:
1- A História da Viagem de Jacques e do seu amo, montados a cavalo, com destino não se sabe bem onde. Tem praticamente a duração da totalidade do livro.
2- A História dos Amores de Jacques. Também demora todo o livro a ser narrada.
3- A História do Sr. Pondichéry, o mau poeta.
4- A história do irmão de Jacques, Jean: o carmelita descalço.
5- A história do padre Ange.
6- A história do Sr. Pelletier.
7- A história do capitão de Jacques e do seu amigo/inimigo.
8- A história sobre o Sr. Gousse, o Sr. Prémonval e a menina Pigeon.
9- A história do cavalo do carrasco
10- Outra história do Sr. Gousse, quando este decide trocar a esposa pela criada.
11- A história da Estalajadeira e Nicole, a sua cadela.
12- A história do Pasteleiro traído.
13- A história do compadre do estalajadeiro.
14- A história do Benemérito Extravagante.
15- A história do cão do moleiro, o namorado de Nicole, a cadela da estalajadeira.
16- A história do Marquês dos Arcis e da Senhora de Pommeraye: uma vingança extraordinária com um desenlace surpreendente.
17- A Fábula da Baínha e do Cutelo.
18- A história dos avós de Jacques e da mordaça que lhe impuseram.
19- A história do senhor de Guechy.
20- A zanga entre Jacque e o seu Amo.
21- Jacques e o seu Amo trocam de posições: agora Jacques conduz o Amo.
22- A história do secretário do Marquês dos Arcis, Ricard, e do Padre Hudson.
23- A história da perda da virgindade de Jacques com a menina Justine, a namorada do seu melhor amigo Bigre.
24- A história das aventuras picantes de Jacques com as suas vizinhas casadas, Suzanne e Marguerite.
25- A história da cabaça de Jacques.
26- A história do Amo e do negociante de quinquilharia
27- A história dos amores do Amo com a menina Agathe e a intervenção do cavaleiro de Saint-Ouin.
28- A história da viúva encantadora.
29- O reencontro do cavalo roubado do Amo.
30- A história do "filho" do Amo
31- O final da História de Jacques e Denise, que no fundo é a mesma do ponto 2.
São todas deliciosas mas faço um especial realce para o ponto 16 e 17.
Jacques é um fatalista, seguindo as sábias palavras daquele que tinha sido seu comandante na tropa, acha que tudo está escrito lá em cima, no grande rolo. (Por quem e porquê fica a pairar como mistério último).
Por isso não vale a pena correr nem para nada por coisa alguma. Não vale a pena rir ou chorar porque nada se desviará do seu destino. E no entanto... ele continua a chorar e a rir e a tomar as suas decisões conforme lhe parece o mais acertado (ou segundo o conselho da sua cabaça). Ser fatalista é um consolo, mas ainda assim um alívio fraquinho, pois nunca sabemos o que está escrito lá em cima. O melhor mesmo é ir contando histórias, construindo narrativas, deixando o discurso fluir nessa pequena grande viagem que é a vida.
Não percam, divirtam-se!