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Peça de Jan Rafman |
Podes ficar descansada: não vais morrer, calma.
Essa que vês aí será resgatada.
Morrerá outra pessoa, muito diferente da que se apresenta diante de ti.
Esse rosto não vai entrar num caixão, não vai ser o banquete num festival de vermes.
O pó não será o seu destino.
O que vês agora no espelho, daqui a uns anos, terá dado lugar a uma outra imagem.
A figura reflectida, vai transformar-se noutra, como uma lagarta a metamorfosear-se subtilmente noutro bicho ainda mais indiferenciado e neutro: uma mulher envelhecida.
Não serás tu.
Com um bocadinho de sorte estás a salvo.
Foste ilibada.
Só tens de desaparecer silenciosamente, bem devagar.
Começa, pois, agora, a ir-te embora.
O pó não será o seu destino.
O que vês agora no espelho, daqui a uns anos, terá dado lugar a uma outra imagem.
A figura reflectida, vai transformar-se noutra, como uma lagarta a metamorfosear-se subtilmente noutro bicho ainda mais indiferenciado e neutro: uma mulher envelhecida.
Essa outra pessoa, por sua vez, cederá o lugar a uma outra que fará o mesmo a uma seguinte e assim sucessivamente.
Até um dia.
No final sobrará a testemunha da morte.Até um dia.
Não serás tu.
Com um bocadinho de sorte estás a salvo.
Foste ilibada.
Só tens de desaparecer silenciosamente, bem devagar.
Começa, pois, agora, a ir-te embora.
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